sexta-feira, 3 de abril de 2009

O mágico de Oz, por Cláudio Levitan



O mágico de Oz,uma história em movimento

por Cláudio Levitan

“ (...) a história do 'Maravilhoso Mágico de Oz' foi escrita unicamente para agradar as crianças de hoje. Pretende ser um conto de fadas modernizado, em que o encanto e a alegria são mantidos, enquanto os sofrimentos e pesadelos são deixados de fora”.

Frank Baum

Tomei conhecimento desse clássico da literatura infantil, como muitas crianças da minha época, através do rádio, no programa Teatrinho Cacique, da Rádio Guaíba. Era logo depois do Repórter Esso, um noticioso que demorava pra terminar por causa da nossa ansiedade. Parávamos de brincar para, juntos em volta do rádio, ouvir as aventuras de Dorothy que foi levada, não como Alice para o fundo da Terra, mas para uma terra distante, talvez uma nuvem, por um ciclone.
Os objetivos do Frank Baum, autor do MÁGICO DE OZ, de tirar os pesadelos e os sofrimentos da história e curtir simplesmente a fantasia, foram em parte alcançados. Porque para uma história atrair ela tem que ter um pé na realidade e isso significa uma ponta de sofrimento. E o pé desse livro está bem fincado na natureza de Kansas, cidade de onde sai o ciclone da história, um fenômeno cotidiano daquela região, que joga a menina para uma terra melhor do que o lugar onde vive. De onde bruxas más (do Oeste e do Leste) fazem o Mundo de Oz girar, assim como acontece com a Terra de verdade. As bruxas boas do Sul e do Norte são o eixo que a menina precisa recuperar a todo momento para seguir sua jornada pelos reinos dos quatro pontos cardeais, onde as bruxas malvadas do Oeste e do Leste guardam os segredos que Dorothy precisa para alcançar seu objetivo: voltar de onde partiu.
A jornada do herói se realiza de maneira suave e poética nesse livro. Mesmo que o autor tenha querido privar as crianças dos sofrimentos, não há como viver no mundo sem que algo se quebre. É na passagem de Dorothy pela Terra de Porcelana, que percebemos, sentimos, visualizamos que a simples presença da menina, tentando cruzar aquele mundo frágil de bonecos de louça, vai destruindo parte daquela beleza, mesmo que não queira. Uma pata da vaca, um cotovelo rachado da camponesinha, mesmo havendo cola para juntar as partes, sempre ficarão feios os ferimentos.
Dorothy vai nos mostrando que é na solidariedade dos amigos que reside a solução para todos os problemas de sua viagem. Ao fim e ao cabo, a solução estava já no primeiro momento da história, quando a casa cai sobre a bruxa do Oeste e ela ganha os seus sapatos mágicos que permitiriam que ela voltasse imediatamente à sua casa. Mas, que graça teria? Não conheceria o Espantalho sem cérebro, o Lenhador de Lata sem coração, o Leão sem coragem, o Mundo verde e falso de Oz, o mundo azul dos Munchkins, o mundo amarelo dos Winkies, o Mágico charlatão, os Macacos Voadores. Ela mesma conclui estar contente por ter sido útil para seus bons amigos e que agora poderia voltar para sua terra natal.
Que graça tem uma vida sem movimento? E o movimento é feito de pesadelos e sonhos, sofrimentos e alegrias. Nisso está a cor do mundo. Frank Baum consegue, antes de tudo, contar uma história moderna. Mesmo que tenha sido escrita no final do século XIX, ela tem a dinâmica e a criatividade de nosso tempo, tudo porque ele curte o essencial da criança: sua imaginação. E criança é tudo o que permanece em nós, por todos os séculos e todas as idades.

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