quarta-feira, 29 de abril de 2009

Isto e aquilo: poesia, dança e brincadeira

por Maira Knop

Ler Cecília é uma dança. Mas cuidado, sua poesia pode te levar a voar por aí. E isto é fato. Se for ler Ou isto ou aquilo, que seja em alto e bom som, que é para assim colorir a vida. Foi assim que li, como menina. E quando cheguei lá adiante, no finalzinho, fui voltando, voltando, recolhendo as letrinhas, devagarzinho até o início, quando reli tudo sorrindo novamente.
Palavra por palavra, a obra nos ensina, distrai e diverte com lindos poemas carregados de sonoridade e de imagens. Com o livro nas mãos e os olhos nos poemas, não há leitor que a alegria não visite. A obra agrada tanto aos pequenos quanto aos maiorzinhos com sua doce criatividade.
Ou isto, ou aquilo Jogo de bola Pescaria Uma palmada bem dada Os poemas, conjuntos estes de sonoras letras, sabem fazer uma energética batucada. O texto, o som, a alegria, o tom enchem de magia o mundo da leitura nessa obra consagrada.
POESIA sim, poesia com rimas, graça e leveza. Com ingênua transparência, Cecília faz-se especial pelo domínio de técnicas e por possuir uma jovial naturalidade expressa em seus 57 poemas espalhados em suas páginas. Tanto podem ser lidos na ordem em que foram escritos como também alternados, pois do mesmo modo divertem. Se optar por maior inventividade, poderá lê-los de baixo para cima, bem alto para brincar com a sonoridade. Sonhos, amor e amizade são alguns dos temas abordados sem, em momento algum, deixar de lado sua musicalidade. Contribui para engrandecer a obra as ilustrações da artista plástica argentina Beatriz Berman. Os desenhos passeiam nas páginas e de hora em hora vão dizendo: Quero te ouvir, quero te ouvir. Acompanhar esta aventura no país da Cecília é rever a nossa mãe, sentar no colo da tia, ou deitar-se sob almofadas naquele cantinho da sala ouvindo o barulhinho das letras. Em algumas passagens, o texto sobrepõe-se às imagens restando apenas visíveis parte delas, como no poema "A língua do Nhem" em que, logo abaixo do texto, vê-se as patas dos animais que decoram a paisagem. Flutua-se lendo "Bolhas", da mesma forma que lambuzamo-nos lendo "Tanta Tinta".
A autora antes de aprender a ler, ao brincar com os livros, imaginava-os cheios de vozes; vozes estas presentes na composição de cada um de seus versos. Na obra, estão presentes vários personagens, ao todo 22, que brincam de ciranda com as poesias dando autenticidade à variedade dos temas. Na hora de conferir a gurizada, alguns tem que responder à chamada mais de uma vez, como a Arabela, a Carolina e o Raul, depois seguem a Maria, Mariana, a Marina, a Dulce, o Chico, a Pedrina; todos vão dando as mãos, fazendo roda com Olga, com Olívio e com Orfeu. E a Dalila anuncia: Eu li! E Célia, Lélia e Eulália complementam: Eu vi!
Como Quintana, Cecília emociona. Não deixe de brincar. Continue lendo...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Palavra de Confrade 3: Maria da Graça Artioli

A Graça Artioli tem sido presença constante nos encontros da REINAÇÕES. É bibliotecária, coordena a biblioteca do Cais durante a Feira do Livro de Porto Alegre e atua no Colégio São Pedro. Apaixonada pela literatura infanto-juvenil, ela agora nos apresenta suas palavras de confrade.


1. Para você, em que aspectos a literatura feita pra crianças e adolescentes reina?
Para mim a Literatura Infanto-Juvenil, é encantamento, emoção, os livros são verdadeiras "Caixas mágicas de surpresas”.

2. Qual o encontro da Reinações que mais marcou sua história de leitor? Por quê?
O encontro da Reinações que mais me marcou como leitora foi o em que debatemos O Mágico de Oz, de Frank Baum, porque lembrou a minha infância de leitora, o filme antigo e as várias edições do livro, foi emocionante este reencontro.


3. Como bibliotecária escolar, como você vê o papel da escola como formadora de
leitores críticos?

A escola pode ser formadora de leitores críticos, por que, além das leituras obrigatórias, o leitor que tem uma biblioteca a seu dispor, com indicações dos professores e dos bibliotecários, pode fazer suas próprias escolhas.

4. Que tipo de livros infanto-juvenis as crianças e os adolescentes mais têm buscado na biblioteca? Por quê?


As crianças da escola infantil gostam dos livros interativos e com sons, os que já sabem ler preferem a "Coleção Quem tem medo", depois vem a "Judy Moody". Os adolescentes estão lendo a "Coleção Deltora Quest" e a "Goosebumps", porque estão mais evidentes no momento. Eles também perguntam por livros que viram na TV, mas acho importante dizer que sempre que converso, principalmente com os de 1ª a 4ª séries, e quando conto histórias, eles prestam a atenção e aceitam sugestões. Uma menina uma vez veio agradecer e me disse que eu devia indicar para a amiga dela que o livro era muito bom.


5. Deixe aqui uma dica de leitura para os confrades. Não esqueça de fazer um comentariozinho sobre ela.
Bem , a dica que eu deixo é Felpo Filva, da Eva Furnari, Ed. Moderna. Felpo é um coelho neurótico solitário e poeta, sua vida muda quando uma leitora lhe escreve, e ele lê a carta (porque ele não lia as cartas que recebia) e então... vocês precisam ler para saber o resto. Eu gosto desta história que há uns dois anos atrás me foi apresentada por uma amiga de 9 anos, já contei para adultos que, sempre que me encontram, lembram dela e me falam.

6. Que Palavra de confrade você gostaria de conhecer?
Eu gostaria de conhecer as palavras da confrade Jacira Fagundes.

O mágico de Oz, por Cláudio Levitan



O mágico de Oz,uma história em movimento

por Cláudio Levitan

“ (...) a história do 'Maravilhoso Mágico de Oz' foi escrita unicamente para agradar as crianças de hoje. Pretende ser um conto de fadas modernizado, em que o encanto e a alegria são mantidos, enquanto os sofrimentos e pesadelos são deixados de fora”.

Frank Baum

Tomei conhecimento desse clássico da literatura infantil, como muitas crianças da minha época, através do rádio, no programa Teatrinho Cacique, da Rádio Guaíba. Era logo depois do Repórter Esso, um noticioso que demorava pra terminar por causa da nossa ansiedade. Parávamos de brincar para, juntos em volta do rádio, ouvir as aventuras de Dorothy que foi levada, não como Alice para o fundo da Terra, mas para uma terra distante, talvez uma nuvem, por um ciclone.
Os objetivos do Frank Baum, autor do MÁGICO DE OZ, de tirar os pesadelos e os sofrimentos da história e curtir simplesmente a fantasia, foram em parte alcançados. Porque para uma história atrair ela tem que ter um pé na realidade e isso significa uma ponta de sofrimento. E o pé desse livro está bem fincado na natureza de Kansas, cidade de onde sai o ciclone da história, um fenômeno cotidiano daquela região, que joga a menina para uma terra melhor do que o lugar onde vive. De onde bruxas más (do Oeste e do Leste) fazem o Mundo de Oz girar, assim como acontece com a Terra de verdade. As bruxas boas do Sul e do Norte são o eixo que a menina precisa recuperar a todo momento para seguir sua jornada pelos reinos dos quatro pontos cardeais, onde as bruxas malvadas do Oeste e do Leste guardam os segredos que Dorothy precisa para alcançar seu objetivo: voltar de onde partiu.
A jornada do herói se realiza de maneira suave e poética nesse livro. Mesmo que o autor tenha querido privar as crianças dos sofrimentos, não há como viver no mundo sem que algo se quebre. É na passagem de Dorothy pela Terra de Porcelana, que percebemos, sentimos, visualizamos que a simples presença da menina, tentando cruzar aquele mundo frágil de bonecos de louça, vai destruindo parte daquela beleza, mesmo que não queira. Uma pata da vaca, um cotovelo rachado da camponesinha, mesmo havendo cola para juntar as partes, sempre ficarão feios os ferimentos.
Dorothy vai nos mostrando que é na solidariedade dos amigos que reside a solução para todos os problemas de sua viagem. Ao fim e ao cabo, a solução estava já no primeiro momento da história, quando a casa cai sobre a bruxa do Oeste e ela ganha os seus sapatos mágicos que permitiriam que ela voltasse imediatamente à sua casa. Mas, que graça teria? Não conheceria o Espantalho sem cérebro, o Lenhador de Lata sem coração, o Leão sem coragem, o Mundo verde e falso de Oz, o mundo azul dos Munchkins, o mundo amarelo dos Winkies, o Mágico charlatão, os Macacos Voadores. Ela mesma conclui estar contente por ter sido útil para seus bons amigos e que agora poderia voltar para sua terra natal.
Que graça tem uma vida sem movimento? E o movimento é feito de pesadelos e sonhos, sofrimentos e alegrias. Nisso está a cor do mundo. Frank Baum consegue, antes de tudo, contar uma história moderna. Mesmo que tenha sido escrita no final do século XIX, ela tem a dinâmica e a criatividade de nosso tempo, tudo porque ele curte o essencial da criança: sua imaginação. E criança é tudo o que permanece em nós, por todos os séculos e todas as idades.