sexta-feira, 21 de outubro de 2011

sábado, 15 de outubro de 2011

Mergulho no Barril, por João Carlos Rodrigues

UM BARRIL DE RISADAS UM VALE DE LÁGRIMAS*, de Jules Feiffer

Um mundo mágico, percorrido em 30 anos, com coordenadas do sábio J. Imago Mago e com dicas da feiticeira Colombina Cristalina, na parte final. Três personagens perpassam a fabulação: a intuição do sábio Mago; as peraltices de Tom; e a luta de Roger pela construção de sua identidade.
Linhas paralelas se trançam entre as pontas do início e do fim da história: um reinado em cada extremidade. No início, o simplório rei Dedilzifidicer, com seu ‘cumequechama’ de 8 km, uma rainha engolida em trajes de banho por uma baleia e um príncipe sem juízo; no final, um rei durão, cuja rainha dá à luz uma princesa estonteantemente linda, que petrifica seus pretendentes. O príncipe protagoniza sua busca, embora não saiba qual é, para no final encontrar a bela princesa e receber dela o Beijo da Vida.

Recursos inusitados do autor vão sendo apresentados desde o começo do trabalho: em interlocução com o leitor - no capítulo 5 em especial - confessa perder o controle sobre o personagem Jack, que mudou de nome, saiu do livro e a ele voltou, além de entrar noutros livros
e deles sair, em razão de seu tédio. A intuição do bruxo traçou linha invisível para Roger, pois o sábio visualizou a gravidade do problema do menino que fazia todo mundo rir e que todo mundo o fazia rir. “Você só tem ossos engraçados. E um príncipe sem algum osso que não seja engraçado não está em condições de ser rei, de ser um pai ... um adulto, sequer. Você não está preparado, talvez nunca fique preparado para assumir os deveres, as obrigações e responsabilidades que o esperam mais adiante.” O sábio resolveu enviá-lo ‘numa busca’ que lhe oferecesse ‘Exxxperiêêêêêêência!’, e para tanto lhe deu um saco de Pó Mágico. Nessa busca, ele deveria passar por cenários errantes e provas cruéis
Assim, Roger sai para a sua busca e, para não provocar riso em quem está a 500 m, usa o pó mágico, que o transforma em margarida, vaca, cobra, cadeira, peixe, pássaro, ... e vai fazendo amigos, entre eles o caçador Tom, que entra e sai da história como quer. A amizade com Tom, todavia, chega ao fim e traz dificuldades. Aliás, muitas dificuldades: para sair da Floresta Para Sempre, Roger o faz de costas e alcança luz intensa, sobre rochedos infindos. Cai e fica preso na parede de um penhasco, quando aparece Lady Sarita, que perdeu seu colar, o qual fica preso em Roger. Pela primeira vez, a fim de devolver o colar, ele negocia e salva sua vida. Com ‘armadilhas
enfileiradas’, Roger pensa em si, negocia, toma decisão, pensa nos outros com força de vontade, passa fome, come pedra, passa vergonha, cria planos, luta durante 30 anos, ama Sarita e ‘sem prestar para nada, fica capaz de tudo’, diz a feiticeira.
O cenário, composto por Floresta Para Sempre, Divisa Perversa, Vale da Vingança, Mar de Gritos e Montanha de Más Intenções, põe Roger num palco giratório e, na figura de uma águia, sente-se disposto a salvar crianças, amigos, para enfim conquistar o Beijo da Vida da princesa Petúlia e o amor de Lady Sarita. Símbolos densos ( pó branco, pedra, carvalho, reinados/poder, colar ...) criam UM BARRIL DE RISADAS do príncipe e UM VALE DE LÁGRIMAS da princesa apaixonada agora por um imenso Gigante. A partir de suas jornadas e buscas, ambos se libertam das maldições: provocar riso e petrificar pessoas.
* texto de João Carlos Alves Rodrigues

54º Encontro da Reinações