domingo, 21 de novembro de 2010

Palavra de Confrade 14 - Marô Barbieri

Marô Barbieri é escritora, contadora de histórias e, atualmente, dirige a Associação Gaúcha de Escritores. Além de ministrar cursos, oficinas, palestras, Marô faz da escrita uma forma de aproximação com os pequenos leitores, despertando neles o desejo de mais e mais palavras. Autora de, entre outros, A princesa que não sabia chorar, Os olhos mágicos do João e A caneta falante.

1. Em que aspectos, na sua opinião, a literatura infanto-juvenil reina?
A literatura para jovens é mais uma das consequências da valorização da criança no mundo moderno. Descobriu-se que a criança, em suas características e especificidades, pode tornar-se leitor e consumidor de livros muito mais cedo do que se pensava. E que há formas de contar histórias que podem favorecer esta leitura.
Esta nova forma, distanciando-se dos relatos não literários dos antigos contos maravilhosos, passou a exigir dos escritores uma nova perspectiva e um compromisso efetivo com a arte da palavra. E vários deles investiram neste novo tipo de texto. Que nem é tão novo assim, mas que exige cuidado, sensibilidade e – principalmente – respeito à criança leitora. Um texto claro, luminoso, inventivo e sem limites para a imaginação, no caso das histórias fantásticas para os menores, e de um retrato sensível, reinventado da realidade, para o adolescentes.
Talvez por isso a literatura para jovens tenha adquirido tanta importância no cenário cultural contemporâneo.

2. Dos 43 encontros que a Confraria Reinações – Porto Alegre promoveu, qual foi o mais marcante para você? Por quê?

O que mais me tocou foi aquele em discutimos O gato malhado e a andorinha sinhá, de Jorge Amado, apresentado pelo colega Hermes Bernardi Jr. Me encantou o contato com uma faceta pouco conhecida do celebrado escritor: um texto belíssimo, extremamente qualificado, poético, sensível e – ao mesmo tempo – cheio de verdade.



3. O que é, na sua opinião, qualidade quando se pensa textos que se destinam à criança e/ou ao adolescente?
Vou transcrever aqui um texto que mandei para o livro da escritora Ieda de Oliveira : A qualidade no texto de literatura infantil e juvenil – a palavra do escritor
“(...)
O texto literário está em outra dimensão da linguagem, não basta escrever com clareza e precisão. Outra relação é necessária: o texto literário exige compromisso. Um compromisso que implica em uma séria relação com a estética, com a construção intencional, laboriosamente estruturada, com a beleza da sonoridade, da cadência, da fluidez.
Literatura é uma arte que usa como material de trabalho a palavra. Portanto, para escrever literatura é preciso amar a palavra. É preciso conhecê-la muito bem, é preciso lidar com ela com a espontaneidade que só uma profunda convivência permite.
(...)
Neste novo século, a produção de literatura para jovens vem tomando esta feição. Escritores e ilustradores tornaram-se mais competentes, mais cuidadosos e mais qualificados. A cada nova história publicada, aumenta o desafio da descoberta. A cada poema que surge, a cada nova voz, timbre, nuance, mais aumenta a responsabilidade do escritor.
Porque uma obra literária, mesmo que feita para iluminar o universo infantil e juvenil, deve ser, antes de tudo, uma obra feita para qualquer leitor, um peça de arte, onde a qualidade do trabalho com a palavra não é apenas obrigatória, é a alma mesma do texto e da relação que se vai construir com o leitor.
Portanto, quando a palavra é trabalhada, amada e respeitada, o resultado é a qualidade do texto.”

4. Você é escritora de narrativas e de poesia. O seu processo de escrita é semelhante em cada gênero?

Certamente não, mas sem desfazer da construção narrativa. Na poesia, a exigência é maior. Trabalha-se com um nível alto de abstração e as habilidades linguísticas do leitor precisam ser constantemente desafiadas. O grande lance é construir este desafio com a beleza e a economia que a poesia requer.
Mesmo o poema mais ingênuo e simples não prescinde de talento e cuidado.

5. Dizem que a nascente de um leitor está na capacidade dos adultos que o cercam de contar histórias. Qual é, afinal de contas, a importância da contação de histórias na pré-história de um leitor?

A contação de histórias sempre foi o berço de bons leitores. Atualmente o papel da narrativa oral, tão importante na construção de um imaginário rico e variado, quase não existe nas famílias. Por isso a importância do recomeço dos grupos de contadores nas casas, nas escolas, nas comunidades, na rua, nas praças.
É preciso refazer o caminho da fantasia pela voz do contador. Porque de uma coisa não há dúvida: todo mundo gosta de ouvir uma boa história!


6 . Que dica de leitura você daria aos confrades da Reinações? Por quê?
Ler, ler e ler! Por que só assim a gente vivencia esta aventura.
Mas que já querem uma indicação de livro, recomendo A mentiras de Paulinho, de Fernanda Lopes de AlmeidaEditora Ática, que já ultrapassou a 20ª tiragem.
Na sua simplicidade, o texto de Fernanda fala exatamente sobre a literatura e sobre quem a faz.


7. Que palavra de Confrade você gostaria de conhecer mais?
Me encantaria saber mais sobre o nosso coordenador/chefe, professor, escritor, agitador cultural, meu amigo, Caio Riter.

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