sábado, 15 de janeiro de 2011

Palavra de Confrade 15 - Caio Riter

Caio Riter é Bacharel em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, e licenciado em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas, pela Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras - FAPA/RS; é Mestre e Doutor em Literatura Brasileira, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É professor de Língua Portuguesa no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, em Porto Alegre. Ministra oficinas literárias de narrativa no SINTRAJUFE-RS, desde 1999. Tem diversos livros infantis e juvenis publicados, muitos deles premiados (Açorianos, AGES, Barco a Vapor e outros) e integrantes de catálogos internacionais (Bolonha e White Ravens).

1. Em que aspectos, na sua opinião, a literatura infantojuvenil reina?
Escrever para crianças e adolescentes é, caso nosso texto vá em direção aos seus corações, certeza de plantar semente em solo fértil. A literatura infantojuvenil, neste sentido, acaba sendo de fundamental importância na construção de pessoas que curtam ler. Assim, é ela que determina os alicerces do leitor, sendo pois senhora absoluta dos caminhos de muita gente que, graças à leitura de um bom texto em sua infância ou em sua adolescência, acabou tornando-se pessoa que não consegue viver apartada das palavras literárias. Há, claro, a necessidade também de não subestimar o leitor: quando a literatura infantojuvenil desperta prazeres estéticos, aí sim, ela reina.

2. Dos 44 encontros que a Confraria Reinações – Porto Alegre promoveu,qual foi o mais marcante para você? Por quê?
Muitos foram especiais. Mas, como a pergunta pede apenas um, ficarei com aquele em que debatemos A história sem fim, de Michael Ende. Um deslumbramento total, texto em que a fantasia e o amor pelas palavras são explorados com requinte de quem sabe o que está fazendo. Livro que é uma declaração de amor à palavra, ao livro, ao fazer literário, à medida que problematiza as fronteiras entre real e ficção, além de expressar de forma simbólica até que ponto um livro pode atuar e transformar alguém.

3. Depois de ter publicado já tantos livros para crianças e adolescentes o que ainda te motiva a continuar escrevendo? Quais desafios você ainda encontra no ato de escrever?
Escrever para seres em formação tem seu tanto de responsabilidade, com certeza. Hoje, creio que minha maior motivação é a possibilidade que a escrita me dá de repensar minha vida, de repensar o Caio-criança-adolescente que fui. Há um dado de nostalgia, de tentativa de retomada de um tempo que não volta mais, mas que, através da escrita, pode ser reinvenção.
Desafios? Todos. Sobretudo aquele de tentar não me repetir, mas ao mesmo tempo de criar aquilo a que chamam de estilo, ou seja, que o leitor possa reconhecer uma dicção própria no meu escrever, mesmo quando enveredo por searas ainda não exploradas.

4. Como você vê a atual produção literária destinada a crianças e jovens no Brasil?
O momento é rico. Muita gente produzindo, muitas editoras publicando, motivadas, creio, pelos planos de compra do Governo Federal. Porém, neste universo amplo, há joio e trigo. Há muito livro paradidático disfarçado de literatura. Há muito texto que se distancia do público-alvo, quer por minimizar sua linguagem, quer por ficar além de suas expectativas. É interessante, também perceber, que há alguns “gêneros”: intimismo, aventura, fantasia. Alguns autores mergulham no íntimo do jovem e da criança, buscando problematizar seus conflitos; outros se interessam muito mais por criar aventuras, sem qualquer preocupação em relação ao universo infanto-juvenil, além de uma sucessão de peripécias heroicas do protagonista. A mim, como leitor e escritor, interessam mais textos que investigam e exploram o mundo das crianças e dos adolescentes.

5. O que não pode faltar em um texto infantojuvenil?
Não pode faltar aquilo que eu dizia antes: investigar o universo do jovem, suas alegrias, suas encucações, seus conflitos, enfim. Além de, claro, um mínimo trabalho estético com a palavra. Afinal, Literatura é a arte da palavra.

6 . Que dica de leitura você daria aos confrades da Reinações? Por quê?
Muito já lemos na Reinações, mas muito ainda há por ser partilhado. Assim, indico Aldabra, a tartaruga que amava Shakespeare, de Silvana Gandolfi, Ed. Rocco, que narra as aventuras de Elisa e sua avó, envolvendo temas polêmicos, como a velhice e a morte, através da magia da leitura de Shakespeare. Vale a pena mesmo.

7 . Que palavra de Confrade você gostaria de conhecer mais?
Eu gostaria de conhecer a palavra da confrade Maria Inês Borne, professora empolgada com a leitura, que faz um trabalho bem legal em sua escola em Charqueadas-RS.

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