quarta-feira, 5 de maio de 2010

Palavra de Confrade 11 - Miriam Obino

Miriam Obino é escultora e artista plástica. Participou de diversas coletiva e de vários salões de arte. Realizou individuais em Madrid, Espanha. Neste Palavra de Confrade, entre outras ideias, Miriam partilha conosco a estreita relação que percebe entre imagem e palavra.

1.Em que aspectos, na sua opinião, a literatura infanto-juvenil reina?
O gesto de ouvir, escutar, narrar, criar e finalmente escrever é o processo da reinação da literatura que tem início no momento em que a criança escuta pequenas histórias cantadas, faladas, sussurradas por quem as embala.

2. Dos 35 encontros que a Confraria Reinações promoveu, qual foi mais marcante para você? Por quê?
Não existiu um encontro especial. Todos os encontros são especiais. As reuniões se transformam em momentos mágicos. Fazemos comentários livres, abertos, provocativos e sempre saímos com um conhecimento ou uma experiência a mais. Os livros se transformam em algo vivo.

3. A confrade Diana Corso disse, no Palavra de Confrade 10, que você enxerga quadros no que lê. Em que medida o olhar da artista plástica auxilia a leitora Miriam?
Estou sempre rabiscando. Desde pequena tenho o hábito de transferir para o papel tudo o que me encanta e emociona. E vejo quadros sim, quadros já executados por algum artista. Em outras ocasiões são minhas criações que enxergo, vejo palavras formando outras palavras que criam outras imagens. Sou apaixonada por imagens, volumes. Quando leio, as palavras viram lugares, sons, movimento. O meu olhar, ao perceber manchas claras e escuras nas páginas dos livros, transformam estas manchas em figuras. Não creio que isto seja um olhar de artista, é só uma particularidade minha. Mas agora adquiri uma nova maneira de olhar um livro. Concentro-me na grafia, no seu significado, na sua cadência. É um novo brincar.

4 - Fale sobre um livro feito para crianças e/ou adultos em que a construção de imagens com palavras é "explosão de significados"?
A última edição do livro Alice no Pais das Maravilhas, de Lewis Caroll, tradução de Nicolau Sevcenko e ilustração de Luiz Zerbini. Na página 39, está a fala de uma rato em desesperança. A escrita está em forma de rato com seu longo e fino rabo. As palavras causam uma explosão para mim, mas isto depende de quem as lê.

5 - Quando você lê um texto produzido para criança ou para adolescente o que você quer encontrar?
Esta é uma pergunta muito ampla. As crianças até aproximadamente sete anos vivem num mundo onde tudo parece ser possível: um elefante vermelho voa ou uma minhoca fala, isso não lhes causa espanto, apenas atiça mais sua imaginação. Penso que o que queremos quando crescemos é criar com a mesma liberdade descompromissada das crianças.

6 - Que dica de leitura você daria aos confrades da Reinações?
Os livros infanto-juvenis de Mia Couto. Eles são escritos no meio de um vendaval de palavras que se entrelaçam, desprendem-se de suas raízes, mudam de lugar e de sentido, viram personagem, alegria, dor e amor. Viram vida.
Nota da Reinações: Entre os títulos de Mia Couto, pode-se citar O gato e o escuro ( Cia das Letrinhas), O beijo da palavrinha (Língua Geral) A chuva pasmada (Caminho) e Mar me quer (Nadjira).

7 – Que palavra de Confrade você gostaria de conhecer mais?
A palavra de Zilá Mesquita.

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