sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Palavra de confrade 7: Elaine Maritza da Silveira

Este Palavra de confrade é especial. Nele, quebramos um pouco a estrutura com a qual estamos acostumados e perguntamos à confrade Elaine Maritza da Silveira, editora da Artes e Ofícios, responsável, sobretudo, pela linha editorial infanto-juvenil, sobre a questão-tema do 1º Seminário da REINAÇÕES na Feira de Porto Alegre: Por que ler os clássicos infanto-juvenis? Na mesa de abertura, que contará com as escritoras Ninfa Parreiras e Márcia Leite, Elaine será a mediadora.
(Na foto, Elaine com Carlos Heitor Cony, autor de O mistério das aranhas verdes, debatido na Confraria Reinações)

1. Afinal, por que ler os clássicos da literatura infantil?

A leitura dos clássicos é o contato com a tradição. Colocar o texto clássico na mão do jovem e da criança é prepará-los para compreender a literatura de seu tempo, transformando-os em leitores mais capazes. Estabelecer o diálogo entre a literatura contemporânea e os textos clássicos leva à compreensão de que a literatura é também patrimônio cultural e que é a partir desse legado que se construiu o que é a literatura de hoje. É importante que se tenha a clareza — e que se possa mostrar isso às crianças e aos jovens — de que o texto que tem valor literário e permanece no tempo é aquele que trata da condição humana e, por isso, não perde o valor com o passar dos anos e mesmo dos séculos. As questões inerentes ao ser humano são universais, e o tempo não faz com que percam a atualidade. Muda o contexto, mas as paixões humanas, os dramas continuam os mesmos.

2. O Seminário vai abordar histórias como Reinações de Narizinho, Peter Pan e Pinóquio? Por que essas obras foram escolhidas?

Essas obras foram escolhidas pelo valor estético e pelo valor que tiveram e têm na história, na evolução e na consolidação da literatura para crianças. São textos que, embora tenham sido escritos há muito tempo, são atuais naquilo que trazem sobre a infância, a capacidade de imaginar e a valorização do universo infantil.
3.Como são esses encontros da Reinações para você?

Os encontros buscam discutir, debater os textos sem nenhum compromisso acadêmico ou com qualquer vertente ou escola. São debates que partem de questionamentos e proposições, num primeiro momento, daquele que coordena e em seguida de qualquer participante que sinta o desejo de se manifestar.
A cada encontro debate-se um livro — que foi escolhido pelo grupo com antecedência e lido para o encontro — e um coordenador faz uma breve apresentação e lança questões a serem debatidas segundo sua percepção de leitor. Os destaques são feitos a partir da leitura do coordenador e daquilo que ele entende que deve ser debatido. Depois disso, o rumo que o debate vai tomar é sempre uma incógnita: há os livros que geram polêmica e outros que são debatidos sem muita paixão.

4. Qual é a importância desse 30º encontro?

O 30º encontro revela que a Confraria está consolidada. São 2 anos e meio de encontros que aconteceram todos os meses, sem nenhuma interrupção, reunindo pessoas cheias de compromissos, que uma vez por mês dão uma parada pra conversar sobre textos de literatura infantil e juvenil. E que ao longo do mês se envolveram com a leitura do livro. A cada encontro fica evidente a importância que essa literatura teve — tem! — na formação dos leitores. Principalmente nos encontros que discutem textos clássicos, há sempre o relato de algum confrade que fala sobre a importância que tal livro teve na sua infância ou adolescência, do quanto o marcou, etc. E quantas vezes foi a partir de um livro lido na infância ou na adolescência que alguém se tornou leitor? Muitas! Eu mesma me tornei leitora lá pelos 8 ou 9 anos, quando abri uma caixa de livros que chegou na minha casa e tomei nas mão O picapau amarelo, do Monteiro Lobato. O prazer e o encantamento de experimentei lendo aquele livro, conhecendo aquelas personagens — e passando a viver com elas o meu dia a dia de criança — foram fundamentais para que eu escolhesse ser leitora. Ser leitora significava poder experimentar de novo e de novo, e sempre que eu quisesse, aquele prazer e aquele encantamento e poder viver aquelas aventuras todas — e sentir muito medo do que poderia acontecer — sem correr riscos. Eu sabia que podia até sofrer, chorar, mas sempre saía inteira. Eu ainda não sabia, mas sempre saía melhor — e mais humana — a cada leitura.
5. Que palavra de confrade você gostaria de conhecer? A palavra de Nóia Kern.

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