terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Homenagem de Caio Riter à Maria Dinorah

Segue texto do confrade-fundador Caio Riter em homenagem à Maria Dinorah.

As luzes de Maria Dinorah

Há pessoas que são luz. No nome e na vida. Há pessoas que fazem de sua existência um farol a iluminar mentes e corações, a difundir o amor por aquilo que acreditam e que julgam ser de fundamental importância para aqueles que estão vindo.
Maria Dinorah, com sua escrita, foi ser de luz.
Lume não apenas para os pequenos, que tanto se encantaram (e continuarão se encantando) com suas histórias e seus poemas. Lume para aqueles, que como eu, trazem em si o desejo da escrita.
Maria Dinorah foi pioneira. Uma das primeiras autoras gaúchas a dedicar suas histórias e seus versos aos pequenos. Guiados por sua abertura de veredas, hoje para vários autores os caminhos se tornam um pouco mais fáceis, mais acessíveis, e o sonho de se fazer autor para criança ou para adolescente é possibilidade de concretização.
Maria Dinorah foi verso, foi canção, foi despertar de sentimento para a leitura em corações infantis. Foi despertar de desejo de literatura nas salas de aula de muitos professores. Uma das primeiras autoras a se dar conta de que, plagiando Milton Nascimento, “todo o escritor tem de ir aonde o seu leitor está”.
Lembro que minha filha Carolina era pessoa leitora, mas a poesia não a encantava como eu tanto gostaria. Ler poemas era coisa breve. Carolina queria mais, queria o tempo longo do narrar de uma história, tempo em que o pai ficaria mais disponível à beira de sua cama. E, um dia, num dos tantos seminários que a Coordenação do Livro criava lá pelos anos 90 a homenageada era Maria Dinorah. Fui lá, livro na mão, e ela, com sua voz doce, voz de vovó boa, escreveu uma dedicatória para Carolina. Cheguei em casa e disse: Filha, olha só o que a escritora Maria Dinorah escreveu pra ti nesse livro. Li dedicatória, li poemas, um, dois, vários, e ganhei naquela noite minha pequena filha para a ludicidade da poesia, para a luz sedutora que brotava daqueles poemas, em que a vida era analisada em meio às brincadeiras infantis, sem, contudo, haver a intenção explícita do ensinamento. Era boa poesia, no que podia propiciar de prazer, ludicidade e transformação.
Maria Dinorah foi ponte entre uma criança e a poesia. Entre várias crianças e os livros. Fez de sua vida um canto. Afinal, mãe de mais de 100 livros, primeira mulher a ser patrona da Feira do Livro de Porto Alegre.
Maria Dinorah Luz do Prado. Luz no nome. Luz nos sonhos de levar a leitura a todos.
E a morte, essa indesejada que está sempre à espreita, que nos surpreende nos momentos mais distintos, abraçou a mulher Maria Dinorah, apagou sua presença física, sua possibilidade de novas criações; porém, não pode jamais apagar a luz que brota de seus textos, a luz que contamina almas infantis, a luz que é sempre e sempre convite para mergulhar no mágico e luminoso universo da leitura.
E cada vez que uma criança (ou até mesmo nós adultos, pois a boa literatura independe de público, independe de faixa etária, ela é, se é boa, é provocação e encantamento) abrir um livro de Dinorah, a Luz novamente vai brilhar. Brilho que se repetirá enquanto houver leitores. Sempre.

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