sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

No meio de "A História Sem Fim"

Motivado pela indicação de leitura para o 22º Encontro da Reinações, enveredo pelas verdes letras do livro de Michael Ende, A História Sem Fim. Meu olhar é conduzido pelo protagonista Bastian, um garoto meio perdido no mundo, que se revela opressor após a morte de sua mãe, quer pelo aparente distanciamento paterno, quer pela estrutura pouco convidativa da escola, com seus professores autoritários e seus alunos que perseguem aqueles que sonham. Assim, o pequeno, gordo e atrapalhado Bastian se vê mergulhado em Fantasia e na saga de Atreiú para salvar a Imperatriz Criança. Estou naquele estágio de fascinação, de não querer abandono das páginas (pareço o Bastian!) e de ter que escrever algo sobre. Daí este breve comentário (mas longa interrupção da leitura!). Abaixo, um techo que fala do fascínio dos livros sobre quem os ama. Merece destaque aqui.

"A paixão de Bastian Baltasar Bux eram os livros.
Quem nunca passou tardes inteiras diante de um livro, com as orelhas ardendo e o cabelo sobre o rosto, esquecido de tudo o que o rodeia e sem se dar conta de que está com fome ou com frio...
Quem nunca se escondeu embaixo dos cobertores lendo um livro à luz de uma lanterna, depois de o pai ou a mãe ou qualquer outro adulto lhe ter apagado a luz, com o argumento bem-intencionado de que já é hora de ir para a cama, pois no dia seguinte é preciso levantar cedo...
Quem nunca chorou, às escondidas ou na frente de todo o mundo, lágrimas amargas porque uma história chegou ao fim e é preciso dizer adeus aos personagens na companhia das quais se viveram tantas aventuras, que foram amadas e admiradas, pelas quais se temeu ou ansiou, e sem cuja companhia a vida parece vazia e sem sentido...
Quem não conhece tudo isso por experiência própria provavelmente não poderá compreender o que Bastian fez em seguida." (p. 6/7)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Literatura politicamente incorreta...

A confrade Márcia Dreizik envia e-mail recebido do Ilan Brenman, que aponta uma discussão interessante, de certa forma levantada no nosso mais recente encontro (As aventuras de Tom Sawyer). Confiram, está bem interessante a discussão.

No final do ano passado defendi na Usp minha tese de doutorado. O assunto central da tese é: Livros politicamente corretos não ajudam na educação de crianças.Houve um interesse muito grande a respeito do assunto e dei algumas entrevistas a respeito.Queria compartilhar com vocês esse material. Acredito que quanto mais adultos debaterem tal tema, mais crianças serão beneficiadas.

Revista Época on Line: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI18323-15254,00.html

Correio Braziliense : http://www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_18/2008/12/24/noticia_interna,id_sessao=18&id_noticia=60180/noticia_interna.shtml

Rede Record: http://www.youtube.com/watch?v=NMH-FkSzjsY


Abraços,
Ilan
http://www.ilan.com.br/

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Palavra de Confrade 2: Beatriz Abuchaim

Beatriz Abuchaim é psicológia e escritora. Participou da Oficina de Criação Literária com o escritor Charles Kiefer e, em 2008, publicou seu primeiro livro individual: Habitantes de corpos estranhos (Editora Projeto), uma coletânea de contos que aborda o universo juvenil, com suas problemáticas, suas neuras, suas dúvidas e certezas. Abaixo, Beatriz, que já participou de vários encontros da Reinações, tendo, inclusive coordenado o debate sobre A fantástica fábrica de chocolate, de Roald Dahl, nos dá sua palavra.

1.Para você, em que aspectos a literatura feita pra crianças e adolescentes reina?

Reina em inúmeros sentidos. Em primeiro lugar, pela possibilidade de formar novos leitores. Em segundo, pela introdução na vida de crianças e jovens de um espaço para reflexão sobre suas existências. Em terceiro, pela satisfação da necessidade que nós adultos temos de nos conectarmos com a criança e o adolescente que um dia fomos, e que ainda, de certo modo, somos. Literatura infanto-juvenil é assunto de gente grande. Grande não porque cresceu, mas porque se permite, de vez em quando, a grandeza de reinventar o mundo, como crianças e adolescentes bem fazem.

2. Qual o encontro da Reinações que mais marcou sua história de leitor? Por quê?

Gostei muito do encontro em que debatemos a obra de Silvia Orthof. Foi divertido e estimulante, porque havíamos lido textos diferentes da autora e cada um falou um pouco de suas impressões. Fiquei motivada a conhecer outros livros dela. Talvez o meu prazer maior em ter conhecido esta autora na Confraria tenha vindo depois, quando dei O sapato que miava para meu sobrinho. Estávamos na casa de minha irmã e daqui a pouco eu encontro a minha mãe às gargalhadas, vocês podem imaginar fazendo o quê.
Aprendi que autores como a Silvia, com seu texto simples, gracioso e ao mesmo tempo profundo, são exemplos de que a Literatura infanto-juvenil de qualidade reina a qualquer tempo, com quaisquer leitores.

3. Com você percebe a literatura para crianças e adolescentes feita no Rio Grande do Sul?

Não sou uma expert no assunto, mas acho que temos muita coisa boa sendo produzida pelos gaúchos. Ainda (e isso é inacreditável neste nosso suposto mundo globalizado) a literatura gaúcha, de modo geral, não fez todo o barulho que mereceria em nível nacional. Espero pertencer a geração de escritores que faça essa virada de mesa.

4. Percebe-se na literatura para adolescentes certa predileção por novelas. O que a levou a optar pelo conto em "Habitantes de corpos estranhos"?

Na verdade, existem poucos livros de contos para adolescentes, não? Optei pelo conto em “Habitantes...” porque desejava contar muitas histórias que levassem a diferentes reflexões.
Independente do gênero (se conto, novela ou romance), gosto de textos que tenham economia narrativa, ou seja, que digam muitas coisas em poucas palavras. Acho que a Literatura é um jogo de luz e sombra, o qual o autor tem de possuir a arte de revelar e, principalmente, de esconder, pois é isso que permite a interatividade do leitor com texto. O leitor só consegue “entrar” na história se damos espaço para ele imaginar em cima dela e, por isso, pode ser um risco muito grande revelar tudo. O fundamental é mostrar, descrever e deixar que o leitor complete o trabalho de interpretação. O conto tem essa estrutura econômica de construir um universo inteiro em três, quatro páginas, porque joga, sobretudo, com o subtexto, o que está implícito à história, o que não se diz escancaradamente, mas se sugere.

5. Deixe aqui uma dica de leitura para os confrades. Não esqueça de fazer um comentariozinho sobre ela.

Indico um livro que me encantou em minha adolescência e que lido depois (de velha) causou-me o mesmo efeito. Acho que não é uma obra de literatura juvenil propriamente dita, não foi escrita para o público jovem, mas possui todos os atrativos para apaixonar jovens e adultos. Chama-se O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger.
Esta obra conta a história de um adolescente que, expulso de um internato, faz seu caminho de volta para casa. O personagem é muito bem construído, livre de quaisquer estereótipos, e a narrativa se sustenta até o final com a dose certa entre tensão e fluidez.

6. Que Palavra de confrade você gostaria de ler?

Gostaria de ler as palavras da confrade Maria da Graça Artioli.